domingo, 17 de outubro de 2010

Apreciação crítica do filme “Adorável Professor”

Título Original: Mr. Holland’s Opus; Gênero: Drama; Duração: 140 min.; Ano de lançamento (EUA): 1995; Distribuição: Buena Vista Picture; Direção: Stephen Herek; Personagem principal: Richard Dreyfuss (Glen Holland).

Sinopse

O filme Adorável Professor conta a história de um músico que compõe que, por necessidades financeiras, vai de lecionar para estudantes de uma escola pública dos Estados Unidos da América. Ele é casado e reside com a esposa num apartamento.
A princípio, ele não se sente bem dando aula, porque leciona para ter tempo de compor uma sinfonia, que é o seu grande sonho, e, além disso, juntar dinheiro para construir uma poupança que possa ser base de sua sobrevivência no futuro enquanto compõe.
Os desafios do magistério começam quando o personagem central entra em conflito com os alunos e quando a sua mulher revela que está grávida. Vendo-se em uma situação difícil economicamente, o professor percebe que terá de lecionar mais do que havia planejado. No decorrer do processo de adequação ao trabalho, ele percebe que o tempo, fato motivador do mesmo ter aceitado este emprego, imaginando que pudesse conciliar as aulas e ainda compor a sinfonia, ao contrário, vai dificultar muito a sua produção musical; além do fato de dar atenção à esposa e ao seu filho. Mesmo um pouco desencantado e decepcionado, ele começa e se dedicar intensamente às aulas que ministra, ao mesmo tempo em que investe afetivamente na sua relação com o filho que acabara de nascer.
Então, ele começa a desenvolver-se como profissional da educação, empenhando-se e fazendo a diferença na vida dos alunos que têm o privilégio de passarem por suas mãos; ajudando-os a superarem suas dificuldades, ele sente-se orgulhoso e gratificado com cada vitória alcançada em conjunto.
Aliás, a escola muda substancialmente no decorrer do filme com a influência de causas históricas. A disciplina de música que era relegada a segundo plano, passou a ser valorizada devido a atuação de Mr. Gleen Holland, causando despertando o ciúme, que leva à discordância do diretor adjunto.
Tudo transcorre normalmente, até descobrir que seu filho só tem 10% da audição. Sua relação com a esposa fica deteriorada e ele se volta completamente para o magistério. Dando aulas de maneira intensa no colégio.
O filme retrata também o trabalho educacional e a importância do envolvimento da família para o desenvolvimento do aluno com necessidades educacionais especiais, representado pelo filho do protagonista, que é deficiente auditivo e os conflitos gerados na vida pessoal do personagem por conta de vivenciar esta situação: ele que sempre foi baluarte para os seus alunos, vê-se em confronto com a paternidade...que o afasta da família, levando-o a sofrer tentações em decorrência disso; paralelamente, o filme apresenta diversos acontecimentos marcantes da história, como as implicações da guerra do Vietnã e de outros acontecimentos que também interferem na vida do casal, do seu filho e da escola.
Ocorre também a aposentadoria da diretora que o contratou como professor e a sua substituição pelo diretor adjunto. Durante sua trajetória, o professor revê sua postura enquanto pai e resgata relações com seu filho, a qual se fragmentou em decorrência da sua intensa dedicação ao magistério.
O filme termina com uma homenagem maravilhosa e surpreendente, onde o professor tem a oportunidade de perceber que, mesmo sem ter realizado o sonho de compor a sinfonia e enriquecer, foi compensado sobremaneira por sua maneira de viver.

Apreciação crítica

O filme Adorável Professor pode ser visto de diversos ângulos e, além disso, pode ser relacionado facilmente com a opção profissional.
Na verdade, a “vida” é na verdade uma expressão que nos leva a pensar, a falar, a sentir, a agir frente a um mundo com o qual não entramos em “contato direto”, mas que faz parte das vidas das pessoas com quem estabelecemos relações; ás vezes mesmo das mais insensíveis: o mundo da arte; da expressão de sentimentos de uma forma rebuscada, sempre comprometida com um padrão de qualidade que as culturas estabelecem como aceitável. E este filme mostra isso, pois a arte não expressa, ela não tem vida própria, no entanto, ela provoca...Provoca, choro, riso, dor, lembranças, saudades...provoca uma avalanche de sentimentos.
Correlacionando a arte do magistério através de conceitos e á luz de uma teoria científica, questiona sobre uma apreciação crítica de um fenômeno a partir de uma ótica estática, simplista, ou desumana; na verdade uma apreciação científica de um objeto, traz em si tanta criatividade, ousadia e bom-senso quanto o que há para sentir através da arte. Aliás, a própria arte é objeto de estudo da Ciência. Assim “talvez não seja a Ciência que está errada, mas sua aplicação” (SKINNER, 2003).
Assim “A Ciência é mais que a mera descrição dos acontecimentos à medida que ocorrem. É uma tentativa de descobrir ordem, de mostrar que certos acontecimentos estão ordenadamente relacionados com os outros. Nenhuma tecnologia prática pode basear-se na Ciência até que tais relações tenham sido descobertas. Mas a ordem não é somente um produto final possível; é uma concepção de trabalho que deve ser adotada desde o principio. Não se podem aplicar os métodos da Ciência em assuntos que se presume ditado pelo capricho. A Ciência não só descreve, ela prevê.Trata não só do passado, mas também do futuro. Nem é previsão sua última palavra: desde que as condições relevantes possam ser alteradas, ou de algum modo controladas, o futuro pode ser manipulado.Se vamos usar os métodos da Ciência no campo dos assuntos humanos, devemos pressupor que o comportamento é ordenado e determinado. Devemos esperar descobrir que, o que o homem faz, é o resultado de condições que podem ser especificadas e que, uma vez determinadas, poderemos antecipar e até certo ponto determinar as ações.”(SKINNER,2003)
Analisando:
a)funções da escola; b) relação professor-aluno; c)saberes necessários.
“A educação é o estabelecimento de comportamentos que serão vantajosos para o indivíduo e para os outros em algum tempo futuro [...] A educação dá ênfase á aquisição do comportamento em lugar de sua manutenção”. (SKINNER, 2003).
A educação que se fazia na escola, local dos principais acontecimentos do filme revela bem isso. As funções da escola a partir do que foi visto são amplas e complexas. Não deve só preparar para o trabalho e para a técnica, mas pode e deve também, produzir sujeitos criativos, críticos que tenham a capacidade de aprender a aprender e finalmente promover o repasse e produção da Cultura, afinal a escola é uma instituição que também têm esse caráter, ela é uma agência de controle como as demais que o homem cria. A escola está inserida no sistema. Do complexo escolar fazem parte: os que ensinam, os que fazem pesquisa na área educacional, os que administram as instituições de ensino, os que estabelecem as políticas educacionais e os que mantêm a educação.
As funções da escola estão correlacionadas aos que pensam a escola. “Ou seja, para compreender um sistema de ensino, além de suas características, é preciso conhecer quais contingências e regras influenciam o modo de agir e de pensar dos responsáveis pela manutenção do sistema ”(VALE, 1997).
Infelizmente a escola retratada pelo filme, quando o professor chegou, não obedecia a um princípio de ter significado para a vida do educando, ou seja, estar relacionada a seu contexto cultural, ás suas demandas, aos seus desejos e anseios e á sua época. Isso se revela de maneira explícita, pois os adolescentes do filme não se interessavam pela música clássica, por exemplo, aliás, não se interessavam nem mesmo pelas aulas de música. “Em algumas situações basta que um sistema educacional tenha um valor de sobrevivência da cultura para que ali ele se mantenha. Nessa situação para que esse sistema tenha o seu valor cultural é preciso saber quais os problemas a serem enfrentados pela cultura, que tipo de comportamentos contribuirão para a solução de seus problemas e de que modo é possível se alcançar esses comportamentos.”(VALE, 1997)
As relações professor-aluno retratadas no filme revelam bem a desconexão entre contexto cultural e ensino formal: os alunos não se envolviam com os professores e com o aprender, existia um desencantamento, um desinteresse visível.
Caldas e Hübener (2001) afirmam que o interesse e o prazer demonstrados pelas crianças parecem diminuir consideravelmente à medida que crescem e avançam nos anos escolares e que, com o passar do tempo, o aluno desanima, sente-se cada vez mais desmotivando, desinteressando e a emocionante construção de novos conhecimentos parece tornar-se um pesado fardo. “A existência de desencantamento, portanto parece ser tanto nas teorias desenvolvidas como nos estudos práticos [...] Motivação está diretamente associada á interação organismo-ambiente e isto nos remete á necessidade de prever e planejar situações antecedentes e consequentes ao processo de aprender em sala de aula.”(CALDAS E HÜBENER, 2001)
Vale afirma (2001) que “Antigamente o que existia era a punição corporal, que hoje em dia foi apenas trocada pela punição não corporal (tais como tarefas extras, idas ao coordenador ou à diretoria, bilhetes para os pais, pontos negativos nas notas, etc.). A cadeia associativa que pode ser formada entre “estudo” e os sentimentos gerados pela punição é capaz de fazer com que o aluno despreze ou tenha ódio do comportamento de estudar e de tudo o que a ele estiver relacionado. Se o aluno não aprende é muito provavelmente porque o modo como ele aprende e o que faz com que ele aprenda não foi compreendido por parte ou do professor, ou do colégio ou do sistema educacional”(VALE, 1997).
O professor no filme percebeu que não podia mudar tudo, mas podia mudar alguma coisa. Começou a lidar com reforços “naturais”, ou seja, os que faziam parte da vida dos seus alunos. A música do seu tempo, seus interesses em tocar determinados instrumentos e não outros, por exemplo.
“Quando o comportamento de aprender está sob controle das suas consequências naturais, então, acontece desse comportamento ficar mais “fácil” de ser emitido pelo aluno, que não mais precisa ser coagido a aprender”. (VALE, 1997)
E isso alterou consequentemente a relação que o professor tinha com a escola, ele passou a se interessar pelo diversos aspectos da aprendizagem, preterindo inclusive o sonho primeiro de compor a sinfonia, ocupando seu tempo, por exemplo, ministrando aulas de reforço para os que apresentavam dificuldades. A mais representativa parte do sistema educacional é o professor. Para compreendê-lo é preciso compreender as contingências que reforçam o seu comportamento de ensinar. A remuneração e o prestígio podem até atrair o professor para a sala de aula, mas o verdadeiro comportamento de ensinar emitido dentro da sala de aula é reforçado por outros motivos [...] Ou seja, a principal consequência que possui efeito reforçador para o comportamento de ensinar de um verdadeiro professor é a aprendizagem do aluno. (VALE, 1997)
Essa mudança provocou uma pequena “revolução” nas aulas de música que passaram a ser mais valorizadas pelos alunos, provocando neles encantamento por essa arte.
O último tópico a ser tratado diz respeito aos saberes necessários que uma escola inserida em um sistema educacional deve multiplicar. Saberes que o professor deve primar construir junto com os seus alunos.
Skinner (2003) inicia o capítulo XXVI de seu livro afirmando que em uma escola americana, se você pedir sal em bom francês, recebe nota10. Na França, dão-lhe o sal. A diferença dessas consequências revela dois fatores: primeiro, a educação é o de estabelecimento de comportamentos que serão vantajosos para o indivíduo e para os outros em algum tempo futuro; segundo uma boa educação procura fazer sempre isso. Assim educar numa perspectiva analítico-comportamental é dispor ao sujeito instrumentos que o permitam mudar o meio, mudar de meio, ou mudar-se perante o meio, tudo isso ao mesmo tempo, ou seja, uma perspectiva holística, abrangente, que considere o organismo e o meio a mesma coisa. Como afirma Vale (1997) um estudante que sabe o que o faz agir da maneira que age, é capaz de selecionar quais tipos de controle ele aceita e quais ele não aceita, e isso é o que é liberdade para um behaviorista.
O “algo” que um indivíduo aprende deve fazer com que ele seja capaz de melhor compreender, modificar e agir no seu ambiente sendo assim reforçado por esse ambiente.
Por que o sujeito aprende? Algumas visões atestam que ele aprende pelo fato do conhecimento aprendido ter sentido para aquela pessoa... “Uma pessoa até aprende o que tem um sentido para ela, mas a pergunta que deve ser feita é “por que esse conhecimento tem sentido para ela?”, se essa pergunta for feita continuamente, com certeza, em algum momento vai se chegar a uma explicação que se origina no ambiente”(VALE,1997).
A educação deve ser uma educação inserida em um contexto, de uma época, de uma realidade... Não existe educação bem feita se ela não respeita isso!
Caldas e Hübener (2001) citam Skinner (1989) no final do seu artigo que afirma que as escolas no futuro “Serão um lugar muito diferente de qualquer que tenhamos visto até o momento. Elas serão agradáveis. Da mesma forma que as lojas bem administradas, restaurantes, teatros, elas serão bonitas, soarão bem, cheirarão bem. Os estudantes virão para a escola não por que serão punidos por ficarem longe dela, mas porque serão atraídos pela escola. Professores terão mais tempo para conversar com os alunos. A competição entre os alunos terminará e o estudante excelente não precisará mais fingir que não sabe de vez em quando para poder continuar a ser aceito em seu grupo. Professores do futuro funcionarão mais como conselheiros, provavelmente ficando em contato com os seus alunos por mais de um ano e conhecendo-o melhor.”

CALDAS, Roseli Fernandes Lins & HÜBNER, Maria Marta Costa. O desencantamento com o aprender na escola: o que dizem professores e alunos. Psicologia: teoria e prática, 3(2): 71-82, 2001.

CEMP. Centro de Estudos em Psicologia. Apresenta textos sobre Psicologia como o de Antonio Maia Olsen do Vale: Aprendizagem e Ensino no Pensamento Skinneriano,1997. Disponível em: . Acesso em 14 jun.2006.

SKINNER, Burrhus Frederic. Ciência e comportamento humano. 11ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003, 489 pg.

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